Marido e pai. Prefeito, administrador de faculdade, fundador de banco, bombeiro voluntário e muito mais. Conheça um pouco do seu legado

 

Os arados são apenas uma parte do seu legadoRetrato de John Deere em torno de 1880, tirado no Estúdio Brandt, em Chicago. Uma gravura dessa foto foi usada em vários álbuns biográficos e guias de cidades

John Deere foi muitas coisas em sua vida e seu legado apenas cresceu com o tempo. No século 19 e começo do século 20, ele foi celebrado como o inventor do arado de aço. Nos anos 1930, Deere, a empresa, mudou o epitáfio de seu fundador para “Ele deu ao mundo o arado de aço”, creditando tanto sua inventividade quanto o empreendedorismo, reconhecendo outros inventores que também trabalharam para desenvolver a tecnologia do arado de aço, apenas com menos sucesso.

Mas quem era John Deere, o homem? Como era sua personalidade? No que ele acreditava? O próprio Deere não deixou muitos registros, mas, felizmente, seus contemporâneos forneceram testemunhos de sua vida.

 

Deere era marido e pai. Casou-se com Demarius Lamb e juntos tiveram 9 filhos. Foi administrador de faculdade, fundador de banco, presidente do Banco Nacional de Moline, diretor da Biblioteca pública da cidade, além de prefeito, bombeiro voluntário e, de acordo com testemunhos, um “enérgico abolicionista”, dentre outras atividades.

 

Pioneiro na fabricação de aradosDeere está no centro de cartaz publicitário de 1856

Quando Deere mudou-se de sua cidade natal, Vermont, para Grand Detour, em Illinois, no inverno de 1836, ele era um ferreiro chegando para atender a uma necessidade em uma vila que crescia. No ano seguinte, ele construiu seu primeiro arado de aço e, com o tempo, usou sua habilidade de ferreiro para alterar o projeto dos arados usados pelos agricultores de Illinois. John Deere achava que o formato dos arados e as lâminas ásperas não eram apropriados para o solo úmido e pegajoso do meio-oeste americano. Até 1846, John Deere e seu parceiro de negócios Leonard Andrus tinham construído mais de 2 mil arados, mas Deere achava que as opções de transporte em Grand Detour, tanto para receber materiais quanto para despachar arados prontos, eram inadequadas.

 

Em 1848, Deere e Andrus desfizeram a sociedade. Como ambos planejavam continuar construindo arados, eles dividiram seus territórios de vendas: Deere assumiu o território do Oeste; Andrus, o do Leste. Deere contava com a mudança dos norte-americanos para o oeste. A descoberta de ouro na Califórnia, naquele ano, ajudou nessa migração.

Após visitar várias cidades, Deere explorou Moline, encontrando-se com apoiadores locais em busca de empresários com a mesma mentalidade.  A “Cidade dos Moinhos”, como era chamada, ficava no Rio Mississipi, do outro lado de Davenport, Iowa. Moline tinha população de apenas algumas centenas de pessoas, incluindo empreendedores da Escócia, Inglaterra, Suécia e muitos orientais. Naquela época, os Estados Unidos eram compostos de 30 estados. Deere e seus novos sócios de Grand Detour, Robert Tate e John Gould, negociaram termos para obterem terreno e direitos de energia hidráulica para iniciar seu novo negócio.

A função de John Deere na nova sociedade era vendas, passando boa parte do tempo percorrendo o interior para apresentar o arado “Moline”. O arado de aço colocou John Deere em posição de destaque.

Moline, a “Cidade dos Moinhos”, na época em que John Deere levou suas operações para a cidade

Ao final de 1849, os sócios haviam vendido mais de 2,3 mil arados e, ao término de 1851, estavam fabricando 70 arados por semana. Apesar do sólido crescimento, Deere, Tate e Gould discordaram sobre o futuro do negócio e os três se separaram em 1852.  Tate queria continuar construindo os modelos existentes de arado, mas Deere pressionava por melhorias. “Eles não precisam levar o que fazemos”, Deere lhe disse, referindo-se aos seus clientes. “Outra pessoa vai nos superar e perderemos nosso comércio.”

 

Pela primeira vez desde seus dias de ferreiro, Deere era novamente um empresário individual.

 

Abolicionista enérgico

Deere foi politicamente ativo por boa parte de sua vida mas, infelizmente, existem apenas registros breves de suas atividades, principalmente em jornais locais. Enquanto seu negócio de arados continuava crescendo nos anos 1850, o mesmo acontecia com sua influência política. Deere não ocupou cargo estadual ou nacional, mas esteve estreitamente identificado com o partido Whig e depois com o Republicano, nos anos que levaram à Guerra Civil Americana. Abraham Lincoln era integrante do mesmo partido, mas não há evidências de que eles tenham se encontrado pessoalmente alguma vez.Esta foto de John Deere é uma de muitas fotos de família, em uma bíblia de propriedade de sua nora Mary

Deere era chamado de “abolicionista enérgico”. Embora não haja textos de Deere sobre suas opiniões da escravidão, as  ações demonstram suas opiniões sobre o assunto. No começo dos anos 1850, o único filho sobrevivente de John e Demarius Deere, Charles, frequentou a Academia Knox, escola secundária administrada por abolicionistas em Galesburg, Illinois. Mais de 20 anos depois, John Deere aceitou nomeação como Administrador da Faculdade Knox, embora eles achassem que “poderiam ter feito uma escolha melhor”. Em fevereiro de 1856, dois anos após a Lei Kansas-Nebraska, ele ajudou a organizar um abaixo-assinado de cidadãos de Moline pedindo a revogação da escravidão no estado de Kansas.

Conforme os negócios iam crescendo, Deere ia deixando o dia a dia das operações nas mãos do filho Charles, conhecido como um excelente administrador. Em 1868, surgia a Deere & Company.

 

 

Prefeito Deere

Desde sua chegada em Moline, Deere estava ativamente envolvido em atividades cívicas. Seja levantando fundos para uma banda da comunidade, atuando como voluntário no corpo de bombeiros ou comprando ações em uma nova ferrovia de cavalos ou uma nova empresa de pontes, ele era um homem de ação.

Em 1873, ele se tornou o segundo prefeito de Moline. Durante sua gestão, Deere ajudou a Catálogo Geral G, de 1901, inclui John Deere, “Inventor do Arado de Aço”. Mais tarde, como no Catálogo O de St. Louis, 1926, o epitáfio de Deere dizia: “Ele deu ao mundo o arado de aço”criar o primeiro Conselho de Saúde da cidade, alocou fundos para a expansão do Cemitério Riverside no lado oeste da cidade e defendeu a expansão dos bondes como transporte público.

Em sua última reunião do Conselho, Deere recebeu uma “comovente moção de agradecimento”, informou o Moline Dispatch, um jornal local. “O prefeito Deere dedicou generosa parte de seu tempo e atenção aos assuntos da cidade, em particular na área de melhoria das ruas, que teve a ‘especial atenção do prefeito Deere’, talvez mais do que de qualquer outro.”

Aos 71 anos, Deere recusou-se a concorrer a um novo mandato para prefeito.

 

Notável integridade

Em 1884, uma carta enviada ao neto de John Deere, descrevia seu avô como um grande exemplo. Ele havia “começado na vida sem vantagens de educação”. Deere obteve o sucesso por meio de “trabalho árduo, integridade de propósito e um dom natural de concentrar todos os seus poderes em ‘uma coisa de cada vez'”.

Ele possuía um “dom de concentração combinado com um forte senso de Cartaz publicitário da Deere, Tate & Gould, que circulou entre 1848-1852caridade, uma animada compaixão com a esforçada humanidade e uma notória integridade”, o que “lhe deu um caráter e lhe construiu uma reputação de que ele agora desfruta…”, dizia a carta.

O empresário W.L. Wilkins, de Iowa, por acaso esteve em um trem com John Deere em 1885. Wilkins estava acompanhado da esposa Lusena e uma neta.  Deere contou a história de sua vida, incluindo como ele chegou a Grand Detour com “uns poucos dólares em seu bolso” e outras lembranças. “Ele disse que, durante sua longa vida, havia sido um grande consolo saber que nunca tinha feito mal propositalmente a um homem e nunca tinha colocado um produto mal feito no mercado”, disse Wilkins.

 

“Ele deu ao mundo o arado de aço” é um epitáfio adequado. Mas, em sua vida, John Deere personificou muito mais para todos que o conheceram.

Antes de John Deere ser sepultado, na tarde de 20 de maio de 1886, aos 82 anos, mais de 4 mil pessoas prestaram homenagem a ele em Moline, Illinois. “Ele não era um teórico”, comentou o Reverendo C.L. Morgan em seu funeral, “ou alguém que lidava com coisas impraticáveis, mas sim com fatos sólidos.”